Contra a violência, quebra o silêncio!
Chega de silêncios. As pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans
são alvo de várias violências. Recusamos o silenciamento da violência e a
violência do silêncio. Marchamos, com um apoio cada vez mais alargado e com
orgulho na luta que travamos, para denunciar bem alto todas as formas de
violência e para as combatermos em conjunto.
Há cada vez mais registos de crimes de ódio cometidos contra nós,
por causa da orientação sexual, identidade e expressão de género. Embora haja
cada vez mais denúncias, há também ainda demasiados silêncios: às vezes
calamo-nos por sentirmos que vivemos em isolamento ou por medo da
discriminação. Outras vezes calam-nos. Aumentam também os registos de suícidios
nas nossas comunidades, mas sabemos que também aqui os silêncios imperam. É
preciso não só prevenir e combater, mas também apoiar as pessoas que sobrevivem
e que continuam a lutar.
O bullying homofóbico, lesbofóbico, bifóbico e transfóbico
continua a ser uma realidade nas ruas, nas casas que deviam ser lares, nas
escolas, nos locais de trabalho - e muitas vezes também é silenciado. Por isso
é cada vez mais fundamental a educação sexual, a educação para a cidadania e a
formação, muito para além das escolas, para denunciar e combater todas as
formas de bullying.
A desinformação, o silêncio e a violência perpassam também no
nosso direito à saúde. As pessoas trans continuam a não ter acesso a cuidados
de saúde competentes e que respeitem a sua autonomia e identidade. Face à
ausência de resposta atual no SNS
exigimos do Estado urgentes soluções alternativas, gratuitas e de
qualidade para todas as pessoas trans que aguardam cirurgia. A doação de sangue
continua a ser impedida em muitos casos para homens que têm sexo com homens,
com critérios estigmatizantes, discriminatórios e errados. E as pessoas LGBT
têm medo da discriminação e evitam muitas vezes recorrer a profissionais de
saúde, perdendo, em silêncio, o acesso a um direito que tem que ser universal.
Aumentam, por seu lado, as novas infeções pelo VIH em jovens gays
e mulheres trans. Cresce a violência a que estas pessoas são sujeitas, da
discriminação no acesso aos cuidados de saúde à violência do estigma que
encontram nas suas vivências e relacionamentos dentro das comunidades LGBT e da
sociedade em geral. É fundamental trabalharmos em conjunto na prevenção, mas
também na luta contra todas estas formas de discriminação.
E os silêncios ainda são a regra no trabalho, reforçados pelo medo
acrescido que a austeridade veio impor. Viver em silêncio também é uma
violência quotidiana para muitas pessoas LGBT. Temos que quebrar todos estes
silêncios e garantir que todas as pessoas têm o direito de afirmar a sua
identidade sem hesitações.
Também por isso, não aceitamos o silenciamento da autonomia das
pessoas trans. Temos que garantir a despatologização das identidades trans para
garantirmos o direito de todas as pessoas a viverem livremente a sua
identidade. Temos de incluir a identidade e a expressão de género no artº 13º
da CRP.
Por sua vez, o silêncio sobre as pessoas intersexo tem também que
acabar. Porque a vontade de silenciar pessoas intersexo significa ainda
violentas mutilações à nascença, que são violações gritantes de Direitos
Humanos.
E não aceitamos que tentem silenciar as nossas famílias, que são
diversas e múltiplas. Em questões de parentalidade, denunciamos e condenamos a
violência simbólica de leis que nos dizem que não devemos ser o que já somos:
mães ou pais. E enfatizamos a vergonha de uma lei também sexista que veda o
acesso à procriação medicamente assistida a mulheres solteiras e casais de
mulheres e que é uma violência sobre a autonomia das mesmas.
Somos pessoas com uma enorme diversidade: pessoas de várias
origens étnicas, imigrantes, requerentes de asilo, pessoas trans, pessoas com
deficiências, pessoas de várias religiões, pessoas que têm diferentes modelos
relacionais, pessoas idosas e jovens, assexuais, bissexuais, mulheres lésbicas,
pessoas que estão em relações não-monogâmicas consensuais, mas sempre pessoas
com Direitos inalienáveis. Como inalienável tem de ser o direito a que todas as
pessoas possam ser reconhecidas na interseção entre as suas várias identidades,
e protegidas da violência, física ou psicológica, venha ela de onde vier.
Temos, em conjunto, que garantir condições para quebrar o
silêncio, para denunciar e combater todas as violências.
Em comum recusamos todas as formas de discriminação e violência -
queremos acabar com o silêncio.
Contra a violência, ergue a tua voz!
Quebra o silêncio, junta-te a nós!
A Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa