Neste último ano dois estudos feitos em Portugal (Stigma Index e 30 anos, 30 mitos do VIH/sida) documentam aquela que é a experiência diária das pessoas que vivem com o VIH. Trata-se de experiências de incompreensão, medo e rejeição por parte das pessoas que lhes são próximas na família, no trabalho e nos cuidados de saúde. São situações que alimentam e perpetuam o estigma, a discriminação e a invisibilidade. Só em Portugal são mais de 30000 as pessoas diagnosticadas com VIH. São os nossos parceiros, amigos, colegas e familiares. Mas invisíveis. Num armário. Para muitos, um segundo armário.
Também sobre isso sabemos muito. Nós, a comunidade LGBT, uma comunidade muitas vezes invisibilizada e estigmatizada. E que na busca da aceitação e da normalização social repete padrões, omissões e rejeições. Como se o VIH não tivesse lugar na nossa comunidade.
Vivem-se no entanto momentos decisivos e de mudança na história desta infeção. Sabemos hoje que as respostas nesta área passam por:
- conhecer a infeção (compreender onde estão a surgir novos casos, em que regiões do país, em que populações e em que faixas etárias);
- diagnosticar cedo e tratar a infeção reduzindo a transmissão;
- Aliar, na prevenção, ferramentas antigas (preservativo) e novas (intervenções farmacológicas);
- Garantir os melhores cuidados e salvaguardar os direitos das pessoas que vivem com o VIH.
Trata-se, portanto, de afinar estratégias, de mobilizar recursos e capital humano, de combinar ciência e direitos humanos. Para que tal aconteça de forma verdadeiramente mobilizadora é necessário uma mudança na forma como lidamos com esta realidade. É necessário que as associações e a comunidade em geral falem sobre a infeção pelo VIH e sobre o aumento do número de novos casos entre a população de homens gay, bissexuais, outros homens que têm sexo com homens e mulheres trans.
Não podemos manter o mesmo discurso e atitudes dos últimos 30 anos, nem podemos ignorar a realidade.
Por tudo isto lá estaremos no dia 21, na Marcha, com orgulho e visibilidade.