A revolução será queer ou não será. Somos todxs corpos, pessoas, animais, pokemon, dragões, feiticeir*s e elfos domésticos e junt@s faremos a revolução! Vestidas ou despidas, pretas ou mulatas, com varinhas ou choques trovão saímos para dizer que queremos abolir a crise e a austeridade do nosso vocabulário. Que desprezamos o capitalismo e a mercantilização do ser e, mais do que isso, que o fazemos com insufláveis e ao som de David Bowie. Queremos mudar a língua e visibilizar *s ainda invisíveis: *s piratas do género, *s transtornad*s, os transespecistas, os corpos estranhos e, por isso, ainda mais bonitos, *s que não têm vontade de fazer sexo, mas nem por isso serão púdicos, mas principalmente, *s que, com austeridade, nem mais um dia aguentam. Queremos que a toda gente seja reconhecida a identificação com géneros nunca antes pensados, ou já reinventados, com uma cenoura ou um triceratops.
Esta marcha, mais do que caminhar do Príncipe Real à Praça da Figueira, é a demonstração das identidades múltiplas (de número tão vasto como o número de consciências que estão agarradas pela gravidade ao mundo) que somos, que fomos e que seremos. Seremos, mesmo quando não tivermos direito a ser. Que não nos resumimos a multidões que gostam de fazer “desfiles-de-plumas” uma vez por ano, mas que também o somos. Que acreditamos no amanhã de Taksym, de S. Paulo, do Rio de Janeiro, de Atenas e de todos os que se juntarem. A luta pelo que defendemos não se esgota neste dia.
Largando os preconceitos fufa-traveca-paneleiro, reivindicamos a calçada como sendo nossa e de ninguém ao mesmo tempo, como sendo o palco da revolução que queremos. Uma revolução de todas as cores, com espaço para todxs, sem opressões nem repressões. Não teremos medo de querer usar strap-on 24h por dia, de deixar crescer pêlos-em-quem-for, mesmo que a barba venha de mini-saia. Que os bears usem as suas barrigas para deitar abaixo o governo, as mulheres as suas barbas, e as personagens de hentai os seus tentáculos! Este sistema esqueceu-nos e nós não o esqueceremos. Encontremos em cada assexual, em cada camiona, em cada drag queen ou king um ser que merece respeito. Excepto se for o Cavaco Silva, o Belmiro de Azevedo ou o Jerónimo Martins, esses não merecem nada.
Revolucionemos o mundo com orgasmos, e revolucionemos os orgasmos com varinhas mágicas, livros e chocolates não-comerciais ao fim da tarde. Misturemos identidades, sexualizemos o moralismo e assexualizemos a objetificação! A revolução (a)sexual chegou, e todxs xs animais, human@s, elfos doméstic@s, muggles, feiticeiras, avestruzes e tapetes voadores estão prontas para se juntar a ela!
Esta é também a nossa revolução. É o momento de dizer que nós queremos mais do que casamentos e co-adopções. Exigimos uma sociedade na qual o sexo seja trabalho legalizado e reconhecido, queremos dissipar o convencionalismo da língua sexista e da hetero/homonormatividade. Queremos uma sociedade anticapitalista e não desistimos da utopia. Somos uma floresta de revoltas.