1 - Porque vivemos num mundo que - independentemente dos avanços
políticos que se façam - continua a ser terrivelmente homofóbico e
transfóbico onde a mentalidade popular ainda é a de que as pessoas queer
são "seres estranhos" com vidas sexuais ainda mais estranhas e que
deus-os-livre de quererem ter filhos!
E se tínhamos alguma dúvida de que a homofobia
estava viva e de boa saúde, este último mês e as posições de ignorância
que foram tomadas por figuras públicas relativamente à lei da
co-adopção, só desmistificaram isso mesmo; continua-se a negar a ciência
para se dar lugar a medos e preconceitos que só oprimem e propagam
mentiras.
Marcha, porque somos de facto boas mães e pais,
caríssimos ignorantes. Existimos com orgulho de não baixarmos a cabeça
quando nos dizem que 'só queremos criançinhas para cumprir joguinhos de
satisfação pessoais manhosos' quando somos famílias, tão capazes como
quaisquer outras, cheias de amor e carinho para dar.
2 - E porque mesmo que não sejamos mães e pais
(embora sejamos filhas e filhos), somos indivíduos que precisam e
merecem celebrar a sua individualidade num mundo que só nos mostra
modelos cisgéneros heteronormativos de amores e de histórias de pessoas
que não nos representam. Um mundo onde a violência contra pessoas LGBTQ
ainda é a regra e onde a conquista de direitos humanos tanto acelera
como desacelera (Rússia!, Hungria!). Um mundo onde activistas ainda são
espancados e mortos em plena Europa ocidental só pelo simples facto de
existirem (França!).
Porque a violência homo/transfóbica é real e nunca é demais relembrar isso.
3
- Porque, como tão bem sabemos, em alturas de acrescidas dificuldades
os que em primeiro lugar ficam à mercê da insegurança são os grupos
vulneráveis como o nosso. Porque todos nós conhecemos casos de pessoas
que continuam no armário porque se soubesse que eram queer perdiam o
emprego / o apoio das suas famílias e isso é algo que não conseguem
suportar; por razões emocionais mas também por razões económicas/sociais
de vivência practica, bem-estar logístico e independência.
4 - Porque este orgulho que temos não é como o dos
"outros". A lógica mantém-se e precisa-se ainda de orgulho em oposição à
vergonha e ao silêncio. E não, continua a não ser o mesmo que "orgulho
hetero" ou "orgulho branco" de pessoas privilegiadas que nunca sentiram
vulnerabilidade proveniente de terem uma identidade de
género/sexualidade incompatível com o status quo.
5 - Porque é importante (essencial) celebrar a
diversidade de tod@s, e relembrar que formas alternativas de viver, de
existir e de nos expressarmos só podem ser coisas boas. Desconstruir o
binarismo de género e a construção fechada, limitativa e tradicional "do
homem" e "da mulher" é urgente. Formas não inclusivas de falar e ver o
género apenas nos prendem em caixas que nos limitam a forma de ver e de
interagir com o mundo; coisa que que em última instância justifica o
silêncio, a opressão e violência para com todos aqueles que têm uma
forma de se expressar menos "tradicional".
Porque a visibilidade trans* também é um caminho para a igualdade de género e para a desconstrução da
homofobia. E porque este grupo ainda é o grupo mais vulnerável e o mais sujeito a constante violência.
6 - E, finalmente, porque a marcha é também uma
festa. Uma festa cheia de cores, força e entusiasmo. Uma prova viva de
felicidade e comunidade. Uma festa de pessoas que vivem por resistir e
resistem por viver.
Porque uma vida feliz e plena é uma vida corajosa e
aberta. E porque "se não posso dançar, esta não é a minha revolução"
(Emma Goldman)
Somos as cores todas do
arco-íris e andamos ao sol de mãos dadas e braços abertos. E neste
sábado queremos andar de mãos dadas e braços abertos contigo.